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Cadernos de Sombras em Tomar - Visitas orientadas por Jaime Silva




Visitas orientadas pelo Pintor Jaime Silva
· 25 de Novembro às 15h00
· 9 de Dezembro às 15h00

Núcleo de Arte Contemporânea 2 - Galeria de Exposições Temporárias
Edifício do Turismo - Av. Cândido Madureira
Distrito: Santarém
Concelho: Tomar
Entrada Livre

Pode seguir o Pintor Jaime Silva no facebook

Ler também Jaime Silva expõe Cadernos de Sombras em Tomar


Jaime Silva expõe Cadernos de Sombras em Tomar


Cadernos de Sombras de Jaime Silva

De 18 Outubro a 31 Dezembro 2014
Galeria de Exposições Temporárias NAC.2, Tomar




Está patente ao público até final do ano em Tomar uma mostra de desenho de Jaime Silva, intitulada “Cadernos de Sombras”, composta por cerca de duas centenas de desenhos em formato A5, executados entre os anos de 2008 e 2010. A exposição foi inaugurada no dia 18 de Outubro na galeria NAC.2, no Edifício da Comissão de Iniciativa e Turismo, em Tomar.

A nova galeria NAC.2, no Edifício da Comissão de Iniciativa e Turismo, em Tomar, acolhe as exposições temporárias do Núcleo de Arte Contemporânea, resultante da doação feita por José-Augusto França à sua cidade natal de parte da sua colecção, que permite reconstituir parte significativa da História da Arte Portuguesa do século XX aos nossos dias.

Natural de Peso da Régua, onde nasceu em 1947, Jaime Silva é licenciado pela Escola Superior de Belas Artes do Porto. Foi fundador do Grupo Puzzle em 1975, bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris em 1977 e 1978 e professor de Pintura no AR.CO de 1983 a 1987. Professor responsável do Curso de Pintura da Sociedade Nacional de Belas Artes desde 1987, foi director artístico da Galeria Municipal de Montijo de 1999 a 2011.

Fez parte do júri de várias exposições e comissariou várias outras. Já em 2014, coordenou a exposição ARTEHOJE na SNBA. Foi agraciado com a medalha de mérito atribuída pela Câmara Municipal de Peso da Régua.

Segundo o texto que acompanha a exposição, da autoria do Professor José-Augusto França, o pintor está consciente da problemática e da verdade do Desenho, como “a razão de ser de todo o gesto que há milénios o homem pratica para se integrar na Natureza – sempre na relação de cheios e vazios do grande espaço que habita.”

Nessa exacta medida, estabelecem os desenhos dos “Cadernos de Sombras” um “equilíbrio dinâmico entre o cheio e o vazio (…) o desenhado e o não-desenhado”, articulando-se “os grandes espaços negros das folhas (…) com os grandes espaços brancos do papel, entre ambos se dispondo o traçado das linhas que assegura a articulação orgânica da folha desenhada, na sua totalidade de opostos e contradições”.



Quarta a domingo entre as 10h e as 13h e entre as 14h e as 18 horas.
Núcleo de Arte Contemporânea 2 - Galeria de Exposições Temporárias
Edifício do Turismo - Av. Cândido Madureira
Distrito: Santarém
Concelho: Tomar
Entrada Livre

Pode seguir o Pintor Jaime Silva também no facebook


SNBA vê e discute obra do pintor Jaime Silva


Sem título 1982, Carvão, pastel e colagem s/ papel, 200 x 150cm

Realiza-se esta quinta-feira, na sede da SNBA - Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, às 18h30, uma mesa-redonda dedicada à obra do pintor Jaime Silva, que se realiza no âmbito da exposição antológica do artista, recentemente inaugurada.

O pintor vai estar presente na sessão, que contará com a participação de vários professores e críticos de arte. A saber: Rui Mário Gonçalves; Cristina de Azevedo Tavares; Nuno Faria e Maria José Craveiro.

Contará ainda com a participação do escritor e poeta José Manuel de Vasconcelos.

Quanto à Exposição Antológica de Jaime Silva, que reúne cerca de 100 peças, ficará patente na Sociedade Nacional de Belas Artes até 27 de Abril e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, excepto feriados, das 12h00 às 19h00.

in Correio da Manhã, 9.04.2013

Jaime Silva e os gestos do corpo


Sem título 1980, Carvão/pastel/tinta da china s/ papel, 150 x 182 cm

Finalmente uma revisão antológica da carreira do pintor Jaime Silva na SNBA. Miguel Matos foi ver e recomenda.

Jaime Silva é um artista que, sem ter o seu nome permanentemente badalado nos meandros da arte contemporânea, continua a trabalhar durante décadas, experimentando técnicas e linguagens diferentes. Uma longa carreira como esta necessita de uma revisão periódica da matéria dada. É isso que podemos observar na Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA) com esta exposição antológica: um pouco da história da vida do artista, desde as suas primeiras incursões na arte até à actualidade, em pintura e desenho.

Jaime Silva nasceu em Peso da Régua, em 1947. Licenciou-se na Escola Superior de Belas-Artes do Porto e pouco tempo depois formou o Grupo Puzzle, juntamente com Graça Morais (com quem foi casado durante 18 anos), Albuquerque Mendes, Armando Azevedo, Carlos Carreiro, Dario Alves, João Dixo, Pedro Rocha e Pinto Coelho. Paralelamente, ao longo da sua carreira de pintor, tem leccionado em escolas como o Ar.Co e a Sociedade nacional de Belas-Artes. Nunca se dedicou em exclusivo à pintura e escolheu partilhar os seus conhecimentos, fazendo uso das suas qualidades de comunicação, coisa rara nos artistas portugueses.

A antologia que a SNBA dedica a Jaime Silva começa logo nas suas primeiras experiências plásticas académicas. Enquanto aluno desenvolveu trabalhos de cariz diverso que se expõem nestas salas, para que se perceba que este homem tem interesses diversificados, mas sempre com alguns eixos que se mantêm, como são a exploração da presença do corpo, a relação física do pintor com a tela, o espaço e as linhas do desenho. Aliás, o desenho neste artista tem um carácter enérgico, rápido, de espontaneidade a toda a prova, como se pode ver em obras de grande dimensão de início de carreira e mais tarde em enormes telas de expressionismo gestual cheias de cor, dinâmica e força. Algumas obras são de enorme impacto e vibração, com efeitos imediatos em quem as olha. Depois, para que se entenda a obra deste autor, há um pouco de cada fase: desde o experimentalismo aplicado ao desenho de nu, ao informalismo e expressionismo, a um lado de desenho automático e quase psicanalítico.

As suas experiências mais actuais consistem numa selecção de obras de uma exposição recente no Palácio Nacional da Ajuda, em que Jaime Silva pinta formas labirínticas, como metáforas para as relações sinuosas do poder instituído. Para além destas, há sempre uma relação visceral com a pintura. O corpo aparece representado com a sua dimensão carnal bem vincada, o que parece destoar com a espiritualidade e quase minimalismo das suas paisagens inventadas. Todas estas referências tocam em pontos aparentemente opostos, mas para quem expõe há 38 anos, estranho seria se se tivesse mantido sempre no mesmo registo.

Exposição Antológica. Na Sociedade Nacional de Belas-Artes (Rua Barata Salgueiro, 36) até 27 de Abril. Seg-Sex 12.00-19.00. Entrada gratuita.

in Time Out, 27 de Março a 2 de Abril 2013
PDF aqui

Exposição Antológica de Jaime Silva na Sociedade Nacional de Belas Artes


Exposição Antológica de Jaime Silva
12 de Março a 27 de Abril 2013

45 anos de percurso artístico - 1966 / 2011
100 obras de Pintura e Desenho

O pintor Jaime Silva apresentará cerca de 100 peças de Pintura e Desenho, pertencentes à sua colecção pessoal, bem como a colecções privadas e Institucionais – abrangendo 45 anos de carreira artística (1966/2011). A exposição é acompanhada por Catálogo com textos de Laura Castro e do artista.

Sem título 1984, Óleo sobre tela, 148 X 262 cm

Afirma Laura Castro, no texto de Introdução ao Catálogo da Exposição Antológica do Pintor Jaime Silva, que o percurso artístico deste autor se pauta por inicial ruptura com os “ modelos históricos e estéticos, técnicos e académicos”, assumindo uma parafiguração irónica ou até grotesca, que progressivamente dará lugar aos grandes desenhos dos inícios dos anos 80 e que pela “vertigem do acto e a força”, são da maior importância na obra deste artista.

Assumida a Pintura, vinda de gestualidade anteriormente pressentida, como anexadora da totalidade do suporte e vivenciada em expansão e outra escala - nela insinuou o pintor elementos organizadores que a encaminharam para “ maior estruturação e … delicadeza de abordagem”, fazendo surgir formas claramente perceptíveis.

Seguidamente a uma temática da paisagem transmontana, entendida de modo próprio e abordada em desenhos que “são extraordinariamente contidos e, ainda assim, expressivos”, desenvolveu o Pintor “peças intimistas que adquiriram o ar de um diário, a atmosfera de uma confidência privada, o carácter poético de entrega…à paisagem e ao mundo vegetal e floral”. Escritas, portanto, “como o eram os grandes desenhos dos inícios de 80”, relevando no entanto de outra intencionalidade e modos de fazer.

A abordagem do Corpo, de modo pretendidamente próximo e ao mesmo tempo distante do modus faciendi clássico; os seus Cadernos de Sombras

Sem título, Série "Um Olhar sobre o Palácio”, Acrílico s/ tela 2011, 114 x 146 cm

- exposição recente que teve como subjacente a análise de Victor Stoichita - e que o Pintor definiu como: “exposição de uma geografia da Alma encenada geometricamente”, em rigor gráfico e conteúdos semi-conscientes; e a meditada recriação dos espaços quase labirínticos do interior do Palácio-Museu da Ajuda - convergem para uma proposta de leitura do percurso artístico deste autor, como de contínua reflexão sobre o acto de Pintar na sua relação transversal com outras áreas do conhecimento, e os modos de estar e dizer-se poeticamente no Mundo.



Mesa-redonda sobre a obra do artista dia 11 de Abril de 2013 com a presença do Pintor e de:
Rui Mário Gonçalves
Cristina Azevedo Tavares
Nuno Faria
José Manuel de Vasconcelos
Maria José Craveiro

Visitas Orientadas
4 e 27 de Abril



Sociedade Nacional de Belas-Artes
Rua Barata Salgueiro, 36 - 1250-044 Lisboa
Tel.: 213 138 510 | Fax: 213 138 519
Email: geral@snba.pt
Site
Facebook


O desenho como iluminação do sentimento e a sombra como eliminação da persona, num processo de individuação (do desenho) de Jaime Silva


O Desenho como iluminação do sentimento e a sombra como eliminação da persona, num processo de individuação (do Desenho) de Jaime Silva

Resumo: Este artigo contextualiza-se na exposição de desenhos intitulada “Cadernos de Sombras”, realizada por Jaime Silva, em Janeiro de 2011, na Sociedade Nacional de Belas-Artes. Sombra é a palavra-chave, por excelência, que dirige a expressão neste Desenho e indicia algo que guardamos e que queremos comunicar. Neste contexto, faço uma associação com o conceito de sombra em psicanálise e desenvolvo uma abordagem tendo como base esta área do saber.

Introdução
Em arte, toda a conexão de coisas tem como efeito/fim harmonizar as realidades, repondo-as no sistema em que sempre existiram originariamente na Natureza, recriando esse sistema natural num sistema mental do autor. Em tudo isto, a intersubjectividade no contexto biunívoco do diálogo entre dois artistas é basilar. É nessa condição que me posiciono para a análise do Desenho de Jaime Silva. Na situação de observação, em contacto com (os desenhos d)o autor, recriou-se o sistema ontológico, adormecido na realidade instintiva em que vivemos e que vamos abandonando em sentido contrário ao do encontro da realidade intelectual.

Jaime Silva licenciou-se em pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1973. Foi membro fundador do grupo Puzzle, em 1975. Foi Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, 1977 e 1978. Foi professor de Pintura no AR.CO entre 1983 e 1987, Lisboa. Desde 1987, é o professor responsável do Curso de Pintura da Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa. É Director artístico da Galeria Municipal de Montijo desde 1999.
Remetendo-nos ao título da exposição – Cadernos de Sombras – expor-se-á a análise deste grupo de desenhos, os quais, pela unidade consolidada, serão designados por “o Desenho” (Figuras 1 a 5).

A sombra é, segundo C. Jung, o reduto daquilo de que não gostamos, aquilo que nos deixa inconfortável e que reprimimos, mas é também um depósito de energia instintiva e uma fonte de energia criativa. Noutra ordem de abordagem, na realidade da percepção, a sombra é um indício de uma realidade, e nunca a realidade. Mas estes conceitos, quando referentes à psicanálise, serão entendidos segundo as definições de C. Jung (apesar de, por vezes, serem associados a outra ordem de abordagem). Mais propriamente, de acordo com C. Jung, entendemos aqui que a sombra é a realidade que a persona oprime; uma realidade que, à medida que vai sendo descoberta/consciencializada, dá lugar à aproximação do sujeito ao seu self, à verdade integral do eu. Nesta óptica, a sombra pode ser, realmente, o indício da verdadeira realidade. E esta, por sua vez, quando transformada em máscara, ou melhor, persona, estabelece-se como o indício da verdadeira sombra: uma persona forte indicia uma sombra densa.

Não se pode ignorar que este Desenho, de Jaime Silva, inclui figuras, mesmo que, muitas vezes, escondidas nas sombras, e das quais apenas se vislumbra o aspecto. Aqui, as figuras contextualizam-se na recorrência aos arquétipos, que são, na concepção de C. Jung, formas sem conteúdo que servem para organizar ou canalizar o material psicológico.

Figura 1 – Jaime Silva, desenho formato A4, datado de Dezembro de 2008.Caderno de sombras nº. 0, tinta gráfica sobre papel.

É neste contexto analítico que se pretende abordar o Desenho de Jaime Silva. Todavia, o desenho tem uma identidade que nos permite chamá-lo desenho e não outra coisa qualquer, como, por exemplo, representação (sendo que o desenho é representação e a representação pode não ser desenho). Neste sentido, estas representações têm uma forte componente de desenho. Apesar de não querem representar formas identificáveis com a realidade que se pode ver, representam uma energia tão importante como a significação.

Figura 2 – Jaime Silva, desenho formato A5, datado de Março de 2008. Caderno de sombras nº. 6, tinta gráfica sobre papel.

Falando-se concretamente nestes desenhos-objectos, neste Desenho circunscreve-se a luz através da sombra; mas, melhor do que isso, liga-se a luz à sombra, unificando as formas numa mancha cuja situação geográfica é permitida pela existência de luz que a inscreve.

Se no Desenho de Jaime Silva somos confrontados com uma forte luta entra o claro e o escuro (a que o autor prefere designar Sombra – o que faz toda a diferença sobre a explicação dos desenhos), vemo-nos a nós próprios, na procura da iluminação do momento de experiência de vida, sem saber para onde conduzir a nossa atenção/energia de consciencialização: para o que (aparentemente) nos “elimina” a vida, pela (semi)ocultação da realidade: a sombra; ou para o que (aparentemente) nos “ilumina” a vida, pela possibilidade de vermos o que existe fora de nós: a luz. Por outro lado, todo o objecto que se interponha na luz (basta que tenha matéria, logo) deixa o seu testemunho de existência; se bem que para existir não é estritamente necessário que tenha matéria, pois, por exemplo, os sentimentos existem e não são constituídos por moléculas. Não é só a matéria que faz “sombra” e dá a sua prova de existência; também os nossos conteúdos internos que, segundo C. Jung, recalcamos, são a origem da sombra existente.

Figura 3 – Jaime Silva, desenho formato A4, datado de Novembro de 2008. Caderno de sombras nº. 0, tinta gráfica sobre papel.

Neste Desenho, mais do que uma luta de separação entre a luz e a sombra, há uma procura da sua conciliação. O sujeito condicionado pela, designada por C. Jung, persona, na qualidade de autor, terá que fazer um trabalho, não de colocar a sombra e a persona em locais confinantes, mas de seguir o seu percurso de individuação (sem que a persona se oponha à sombra), onde tudo se concilia: onde a luz e a ausência da mesma realidade existem originariamente com papéis igualmente construtores.

Coloca-se, neste momento, um paradoxo que merece a nossa atenção: o desenho, como pensamento, ilumina e elimina o sentimento, uma vez que a sombra é ao mesmo tempo a prova da existência de um conteúdo e eliminação do mesmo; pois é, respectivamente, o indício dos conteúdos interiorizados pelo autor e a revelação de que existe uma realidade de cuja existência apenas conhecemos a sombra, dada a nossa incapacidade de nos arredarmos desta e de nos aproximarmos da realidade.

 Figura 4 – Jaime Silva, desenho formato A5, datado de 24 de Fevereiro de 2009. Caderno de Sombras nº. 11, tinta gráfica sobre papel.

À primeira vista, parece prevalecer a eliminação da iluminação, em que a sombra, a matéria (que são os sentimentos, cuja prova não pode ser o branco do suporte, mas sim a marca que lá se deixe, o negro) que ocupa/macula a luz/imaculada, é mais importante do que o espaço que é ocupado (o desocupado susceptível de ser ocupado, o espaço em si onde se pode guardar os sentimentos, o imaculado, o branco). O autor faz, assim, uma ligação entre o espaço (branco/imaculado) e a matéria (negra/maculada); faz uma conciliação entre a potência (mental/o suporte à espera de receber uma intervenção, o branco) e a respectiva actualização (reconstrução/recriação das memórias pelo desenho negro).

Segundo esta argumentação, num paradoxo aparente, o autor faz uma iluminação intelectual (em que a criação do desenho é uma forma de pensar o sentimento) eliminando a luz com a sombra negra, isto é, racionalizando a emoção, transformando-a em imagem comunicante. A razão, portanto, assume o papel de sombra negra, que põe ordem ao flutuar das emoções instintivamente libertas. Mas o autor não deixa de ter aquelas emoções; antes desprende-se delas, para que outras ocupem o seu lugar, tentando compreendê-las, dando forma aos sentimentos no fenómeno da consciência, ou seja, tornando as emoções consciencializadas, É assim a dinâmica da relação dialéctica sujeito-meio(-sujeito). A razão aqui não funciona como ordenação abstracta da realidade, mas como organização universalizante da mesma. Neste Desenho apresentado, a sombra é a materialização da energia espiritual, é a possibilidade de o autor (como ser individual) circunscrever a realidade cosmogónica (a que pertence como partícula de um sistema) num tempo e espaço cujos limites são a forma desenhada; e sendo esta o sentimento veiculado por meios racionais, porque materializados e circunscritos, mas não racionalizados no sentido de os opor à sensibilidade.

Figura 5 – Jaime Silva, desenho formato A5, datado de Fevereiro de 2008. Caderno de sombras nº.4, tinta gráfica sobre papel.

Mais do que a dicotomia, neste Desenho, percebe-se uma dialéctica entre os opostos: branco/ausência do branco. Presume-se que na elaboração do Desenho tenha havido uma luta entre o negar e o afirmar, entre o dar a visibilidade/iluminar e o de, consequentemente, lha retirar/eliminar. Aqui, apenas se vislumbra algo que se quer dizer mas que não interessa literalmente fazê-lo; talvez seja importante, apenas, mostrar que existe a intenção de o fazer: o que se consubstancia numa energia da acção criativa: a dialéctica iluminar-eliminar. É o processo de canalização dessa energia que interessa ao autor e que é propulsionada pela vontade de poder “dizer”, ou melhor, pensar o sentimento, numa palavra, tomar consciência dele, transmitindo a prova de que existe.

Desenhos são formas. O que as gera são memórias carregadas de emoção e afectos (que são formas de energia restauradoras da vida). Mas o que é transmitido pelas formas não são as memórias e os afectos do autor, são a provocação do cogitar do observador das memórias que pertencem ao seu próprio ser autobiográfico e à respectiva forma de pensar e ver o Mundo. O conteúdo, a mensagem e a intenção não passam da projecção do que decorre na própria mente de observadores; é, de facto, um acto subjectivo, que neste terreno de análise é evocado para explicar que tudo o que o Outro profira sobre os desenhos do Autor não é senão a projecção do eu e que podem eventualmente coincidir com a realidade do Autor; isto, na medida em que os sentimentos são universais. A forma como associamos os sentimentos às realidades depende da história de cada um. Todo este processo é fundamental para gerar a comunicação (e uma intersubjectividade) que nos permite assumir uma identidade considerando que existem muitas outras para fora do sujeito.

Tudo isto contextualiza-se num percurso de reposição/recriação/renovação de riscos, que impelem o autor à descoberta do ainda desconhecido. A descoberta gera uma emoção que nos conduz a outra descoberta. O que só é possível numa constante revisão dos alicerces, socorrendo-se sempre de um comportamento homeostático. O desenho, como a criação em geral, coloca-nos numa situação de iminente descoberta. Esse confronto provocado pelo primeiro risco que se faz num suporte é a origem da necessidade se descobrir algo até então desconhecido. A particularidade do desenho é que cada gesto é o início/desafio para uma descoberta. Mas este fenómeno acontece na sucessão de gerações de Desenhos, o que é muito visível no Desenho de Jaime Silva.

Não se sabe se o objectivo é macular ou, pelo contrário, expurgar o maculado, purificando a mente, de uma forma catártica. Não se sabe, nem é necessário saber, porque, no que concerne ao desenho, o saber é uma faceta que se reduz ao fazer-se comunicar (muito mais do que o saber fazer); se esse acto resulta no processo de catarse ou não, só se verifica na medida em que o Autor, com a fé nesse meio de expressão, mantenha a necessidade de o usar para se comunicar (entendendo aqui a comunicação como meio de veicular o pensamento inerentemente sentido). A permanência deste modo de expressão deve-se ao instinto correspondente ao coeficiente que existe entre a exteriorização de uma vontade (de criar) e a criação (de uma vontade); é, na verdade, o querer saber-se, como se se quisesse conhecer a que sabe o próprio eu, isto é, se o sentimento é nosso ou é, na realidade, aquela projecção que fazemos no Outro. Mais uma vez: a inexorável existência da inter-/intra-comunicação.

Texto de Luís Filipe Rodrigues aquando do Congresso anual Criadores sobre outras Obras, CSO'12
Publicada na Revista semestral Estúdio V, verão 2012 da Faculdade de Belas Artes de Lisboa (PDF aqui, págs. 55 a 61)



Referências
BARTUCCI, Giovanna (org.) (2002). Psicanálise, Arte e Estéticas de Subjectivação. Rio de Janeiro: Imago.
DECOUBERT, Simone e SACCO, François (2004). O desenho no trabalho psicanalítico com a criança. Lisboa: Climepsi Editores.
FREUD, Sigmund (2009). Cinco Conferências sobre Psicanálise. Lisboa: Relógio D’Água Editores.
FREUD, Sigmund (1997). O Ego e o Id. Rio de Janeiro: Imago.
FULLER, Meter (1983). Arte e Psicanálise. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
GIRON, Myrna Cicely Couto (2007). Psicanálise e Arte: A Busca do Latente. Porto Alegre: Editora Rígel.
JOLY, Martine (2001). Introdução à Análise da Imagem. Lisboa: Edições 70.
JUNG, Carl Gustav (2009). Las relaciones entre el yo y el inconsciente. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica.
MALRIEU, Philippe (D. L. 1996). A Construção do Imaginário. Lisboa: Instituto Piaget.
MOLINA, Juan José Gómez (coord.) (2003). Las Lecciones del Dibujo. Madrid: Ediciones Cátedra.
RODRIGUES, Ana Leonor M. Madeira (2003). O que é Desenho. [S. l.]: Quimera.
RODRIGUES, Luís Filipe S. P. (2010). Desenho, Criação e Consciência. Lisboa: Bond.
SERRÃO, Adriana Veríssimo (2007). Pensar a Sensibilidade, Baumgarten – Kant – Feuerbach. Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa: Lisboa.
TIBURI, Marcia; CHUÍ, Fernando (2010). Diálogo/Desenho. São Paulo: Editora Senac.
VINCI, Leonardo de, ALBERTI, León Bautista (1999). El Tratado de la Pintura y los tres libros que sobre el mismo arte escribió León Bautista Alberti. Barcelona: Editorial Alta Fulla.



Jaime Silva participa na Exposição “Cinco Séculos de Desenho”


Desenho - técnica mista, 155x100 cm, 1981

A Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) e o Museu Nacional Soares dos Reis recebem, a partir desta quinta-feira, a exposição “Cinco Séculos de Desenho na Colecção da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto”. A mostra está dividida em três núcleos, divididos entre os dois espaços:

Desenhos italianos – Séc. XVI e XVII

Desenhos de Academia – Séc. XVIII e XIX

Desenhos Contemporâneos – Séc. XX e XXI

O terceiro núcleo está no Museu Nacional Soares dos Reis, e resulta da recolha (coordenada por Ana Paula Machado, Fátima Lambert, Francisco Laranjo e Laura Castro) de mais de 150 obras doadas especialmente para a exposição por artistas contemporâneos, todos eles ligados à Escola de Belas Artes do Porto.

O desenho do Pintor Jaime Silva integra o núcleo expositivo dos séculos XX e XXI que inaugurará no Museu Nacional Soares dos Reis no Porto, no dia 21 de Março, às 17h30.

A obra apresentada por este Pintor fez parte da “Representação Portuguesa à V Trienal da Índia”, organizada pelo Ministério da Cultura e Coordenação Científica e Fundação Calouste Gulbenkian, que decorreu entre Março e Abril de 1982 em Nova Delí. A representação Portuguesa foi constituída pelos seguintes artistas plásticos: Helena Almeida, Gäetan, Lurdes Robalo, José Rodrigues, António Sena e Jaime Silva.

“5 Séculos de Desenho na Colecção da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto” poderá ser visitada no Museu da FBAUP, todos os dias, entre as 10 horas e as 18 horas, até 22 de Abril. O núcleo exposto no Museu Nacional Soares dos Reis estará patente até ao dia 20 de Maio, no seguinte horário: terça-feira, das 14 horas às 18 horas; quarta-feira a domingo das 10 horas às 18 horas.



MNSR - Museu Nacional de Soares dos Reis
Palácio dos Carrancas
Rua D. Manuel II - 4050 - 342 Porto
Telef + 351 223 393 770 - Fax + 351 222 082 851
Email mnsr.div@imc-ip.pt

Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
Avenida de Rodrigues de Freitas, 265
4049-021 Porto
Tel: +351 22 519 2415 | +351 22 519 24 00
Fax: +351 22 536 7036
E-mail: cincoseculosdodesenho@gmail.com


Cadernos de Sombras : Os Contornos da Miragem


Cadernos de Sombras : Os Contornos da Miragem

See where the landscape glows and flares
Lit by the beacons desire - 
As faces grouped about the fire
Give back the light that is not theirs.
Dick Davis


Algumas imagens da Exposição "Cadernos de Sombras" que decorreu na SNBA de 14 de Dezembro de 2010 a 15 de Janeiro de 2011

Os trabalhos que Jaime Silva reuniu e expõe sob o título «Cadernos de Sombras» denotam alguns ecos de uma linha de criação artística iniciada na década de 90 em que o pintor, em formas simples e esquemáticas, geradas através de traços finos mas com expressiva exuberância, apostava numa abstracção com fortes sugestões figurativas. O que nessas obras, ao primeiro contacto, poderia dar uma impressão gestualizante, revelava, a uma análise mais atenta, um seguro caminho de premeditada reflexão. Havia em tais desenhos, como então escrevi, «uma estrutura sacudida pelo pensamento», frase que se aplica plenamente ao que agora se apresenta nesta exposição, e que, na diversidade dos seus contornos, vive da disciplina determinada pela ideia que o gerou. Há nestes desenhos, criados com meios de grande simplicidade (esferográfica e tinta rotring brilhante sobre papel), uma forte majestade, apesar do seu carácter algo intimista, das suas dimensões contidas, de uma reserva que a inteligência comanda, orientando o traço de acordo com uma predeterminação que se pressente. A ideia destas formas vem da terra, da pedra, da rocha, do volume que respira numa luz ausente, e que as dá como suas projecções, nos contrastes que as revelam como espessas sombras, com todo o historicamente longo percurso de significados que essa palavra tem, quer na filosofia, quer na história da arte.

É sabido que, segundo um mito muito antigo, trazido até nós por Plínio o Velho, na sua História Natural, a origem da arte da pintura estaria na delimitação da sombra da figura humana no solo ou numa qualquer superfície. A história da sombra e da luz confunde-se assim com o próprio percurso das artes visuais. A pintura teria nascido, não da observação directa da natureza, mas da «captura» do lado virtual das coisas, da sua projecção, do seu duplo. A imagem do traçado da sombra seria então uma representação de segundo grau, uma imagem da imagem, tal como em Platão, para quem o reflexo afasta desde o início a arte, da realidade, conferindo autonomia àquela e colocando-a no plano da pura representação.

A sombra vista, não como o oposto da luz, mas como epifenómeno, realidade segunda, fantasma, «after image», é a orientação possível de um pensamento que não pode enfrentar a sua fonte. Ela é o fugidio, o irreal, de certo modo a segunda natureza das coisas, o seu eco, o que a aproxima simbolicamente do «outro lado» do mundo, do reino da morte, na mesma medida em que a ausência de sombra seria a condição da imortalidade, o que levava os gregos a celebrarem sacrificialmente os seus mortos ao meio dia, a hora vertical, imagem da própria eternidade. O meio dia é, com efeito, o limite do movimento ascendente da luz, o zénite, o ponto a partir do qual o dia começa a declinar, o momento estático em que a identidade, anuladas as suas projecções, as suas multiplicidades, se imobiliza no Uno. Paul Valéry disse-o, no seu modo lapidar, nestes versos:

Midi là-haut, Midi sans mouvement
En soi se pense et convient à soi même.


Cognoscitivamente a sombra aproxima-se assim do mito, representação da representação, eco do verdadeiramente inacessível. Os telúricos desenhos dos «Cadernos de Sombras» dão-se ao nosso olhar quase à maneira de esboços, de modo aproximativo, configurando uma poética gráfica do maciço, da rocha, da montanha, sugerindo o jogo das fissuras, das fragas, aparecendo como a antítese da brancura: o vale, a planície, o céu. Eles transmitem, na sua singeleza, uma ordem cadastral: o sabor das anotações do levantamento orográfico. No que aqui vemos, não há porém qualquer cedência a registos naturalísticos, o que se pretende é reduzir o visual ao esmagamento da ideia, à condensação em que consiste a sua apropriação pela nossa consciência, ao abstracto da representação. Sabemos, desde Heráclito; que «a Natureza propende à ocultação» , mas estes desenhos parecem ilustrar o ensinamento de Francis Bacon de que: «Os segredos da natureza se revelam melhor sob a tortura das experiências do que quando seguem o seu curso normal» Não estamos assim sob o signo do reflexo, mas da reconstrução. Melhor: da ilustração de uma ideia. Ilustração onde cabe uma certa inquietação, onde o recorte, a silhueta revela a anfractuosidade do próprio pensamento, a forma irregular e quebrada - fractal -, «entre o domínio do caos descontrolado e a ordem excessiva de Euclides» Latência perceptiva e mental ao mesmo tempo, é o que estes desenhos nos trazem na sua pregnância simbolizante contra o fundo bem mais enigmático da superfície branca, dessa indefinição larga, nervosa e mais crispada na sua neutralidade do que as formas densas, largas e pujantes que nela se inscrevem. É que essas formas, enquanto sombras são agentes de desmaterialização, como o são, em Pierre Soulages, as massas escuras que invadem a tela e nela se fixam carregando apenas o peso de uma libertação espiritual.

Ao olhar estes desenhos, que vivem do contraste, da encenação da dúvida, do chiaroescuro que tem sido o fio condutor de toda a representação na arte ocidental, entendo que o que nos é aqui proposto, são formas diluídas, de dramatismo contido, como se o peso da luta entre o pensamento e a realidade tivesse sido reduzido à simplicidade de um dualismo: a luz e a treva, a fonte e o eco: a sombra como mitigação, como rugosa suavidade. A pintura, o desenho, tem às vezes necessidade de diluição, para ser mais cruel na sua nudez. Lawrence Durrell, o famoso escritor irlandês, pintor também, ainda que menos famoso, sob o nome de Oscar Epfs, afirmou algures, com razão: «L’essenciel est de rincer la peinture.» Os desenhos de Jaime Silva aqui propostos são realidades mentais, formas criadas na intimidade da memória, que correspondem à pulsão de dar forma, ao fim e ao cabo, a algo que surge na distância do olhar, olhar que, ele mesmo, engendra as suas sombras. A própria distância é uma sombra, como há muito nos ensinaram Albrecht Dürer e Leonardo. «Caderno de Sombras» é, na especificidade do universo plástico de Jaime Silva, um excelente exemplo desse saber ponderar a distância, de apresentar as imagens como intersecções do nosso vibrar perceptivo e mental.

José Manuel de Vasconcelos